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LíVIA NATÁLIA
(BRASIL – BAHIA )
Baiana de Salvador (1979) e cresceu nas dunas no Abaeté, como boa filha de Osum.
Seu livro de estréia, Água Negra, foi premiado pelo Concurso Literário do Banco Capital – 2011.
É Doutora em Letras pela UFBA e professora na mesma Instituição.
Escreve no blogue: osolnasbancasderevista.blogspot.com
LABORATÓRIO DE POÉTICAS. No. 9 -Maio de 2011. Diadema,
São Paulo: 2011 No. 1984 Ex. bibl. Antonio Miranda
ÁGUIA NEGRA
Chove muito na cidade.
No asfalto betumoso um sangue transparente,
ora de um rubro desencarnado,
ora encardido de um cinza nebuloso,
é vomitado em cólicas
por toda parte.
Das paredes duras vaza um mais escuro que,
imagino,
seja a água mordendo as entranhas.
A água é assim:
atiçada do céu,
infinita no mar,
nômade no chão pedregoso,
presa no fundo de um poço imenso:
a água devora tudo
com seus dentes intangíveis.
MNEMOGRAFIAS
As estrelas são apenas memória de luz.
Seu brilho melancólico e alto,
é o arremedo triste do que se foi,
Um eco para sempre repetido
— e perdido.
As estrelas amam o perdido,
não se confundem.
Se simulam no céu negro
imitando a alegria possível,
no teatro semicerrado de nuvens.
Algo de mim grita,
nestes astros decaídos.
Somos parco resquício de alegria e dor,
fresta de festa finda,
algo que se arrasta
na poeira das ausências.
Sim,
as estrelas são apenas memória de luz.
Mas como brilham!
*
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Página publicada em outubro de 2023
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